1. |
Amori
02:36
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Chama a chama
bota fogo na lareira
há água na fogueira, amor
Dama, dama
acende a cama e a cadeira
há gente sem calor, amor
Por cima não há
ninguém a ver
que ligue à lei
E eu já paguei
então…
Lava a lama
seca a chuva da madeira
a rua já vai cheia, amor
Fome e fama
pede ajuda à lua cheia
há dias sem sabor, amor
Por cima não há
ninguém a ver
que ligue à lei
E eu já paguei
então…
Já nem falo, já nem falo
em quem sufoca o seu par
com a palma da mão
Já nem falo, já nem falo
em quem afoga o seu par...
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2. |
É Já Ali
02:51
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Sem esconder mais erros no berço
o Alberto quer saber onde as gatas vão
Quando toca a hora do terço
e os bancos estão vazios, apesar do frio
Sem limpar à roupa da cama
o Alberto quer saber onde as gatas vão
É já ali, ao virar da esquina
Ia, tás quase lá, tás quase lá
Sem sorrir a desejos secretos
o Alberto quer saber onde as gatas vão
Mas guarda a pena para outros decretos
e espera que o jornal traga a solução
Se há virtude, não é por vontade
que aquilo que ele quer é partir a actriz
É já ali, junto ao multibanco
Ia, tás quase lá, tás quase lá
Sofre por só ver às vezes
chora por saber demais
Mas por cinquenta mocas
aquela casa fica em paz
ou quase lá, ou quase lá
Sem usar o cinto com força
o Alberto vai lá ter, onde as gatas estão
É já ali, ao virar da esquina
Ia, tás quase lá, tás quase lá
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3. |
Ainda Há Quem Ajude
03:10
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Ainda há quem ajude
e é bom lembrar-me disso
(ainda há quem ajude)
Os dias ficam podres
e as noites mal-dormidas
(ainda há quem ajude)
Quando tens de arrastar
um passado tão pesado
e não dá para parar
que o presente é muito quente
e só resta empurrar
o futuro como um muro
então a gente ajuda
Já pensei juntar-me
à princesa sem cabeça
mandar um belo salto
dum sítio muito alto
para o meio do Giraldo
Mas há sempre um anjo
a chamar-me para esta vida
que embora seja suja
e um bocado burra
mordê-la sempre ajuda
Quando tens de arrastar
um passado tão pesado
e não dá para parar
que o presente é muito quente
e só resta empurrar
o futuro como um muro
então a gente ajuda
Ainda há quem ajude
e é bom lembrar-me disso
(ainda há quem ajude)
Quando tens de arrastar
um passado tão pesado
e não dá para parar
que o presente é muito quente
e só resta aguentar
o futuro como um murro
então a gente ajuda
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4. |
Mê Cão
02:25
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O meu cão não é bem meu
nem de ninguém
Ele anda por aí
e às vezes vem
O meu cão não é de cá
nem de Portel
Ele é de onde está
e anda a pé
Toda a gente quer meter-lhe
uma trela, uma sela, um selim
Ninguém acha bem
que um cão tão lindo viva assim
As cadelas querem meter-lhe
um telhado, um arado, um anel
Ficaram com a ideia
que ele é conde de Portel
O meu cão não quer voltar
a arranha-céus
e ver-se reflectido
nos seus troféus
nem quer guardar
um pátio com limões
Prefere ir passear
as filhas dos ladrões
Se eu pudesse andar por aí
com o pêlo molhado a brilhar
e morder os betos
que me acordam a gritar
Se eu pudesse ser como ele
e ao mesmo tempo ser eu
era um pouco mais do povo
e um pouco menos meu
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5. |
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Quando a tocha e o tambor
lançam sombras no teu lar
chega a hora de ir dizer adeus
a quem veio para dizer olá
Vão mentindo pelo teu bem
e benzendo o teu medo
e aquilo que me enoja mais
é que nada disto é segredo
mas o dia continua igual
porque a noite veio muito cedo
Quando a tocha e o tambor
já ressoam no teu lar
chega a hora de ir dizer adeus
a quem veio para dizer olá
Tiram cravos das G3
para plantá-los num jardim
e a plateia volta para casa
convencida que é melhor assim
mas ninguém notou que as carabinas
já não tão nas mãos de manequins
Quando a tocha e o tambor...
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6. |
Entretanto Passou
03:33
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Entretanto passou
Eu tava-me a passar
mas agora passou
Entretanto passou
Até cuspia sangue
mas agora passou
Na valeta
não cabia mais ninguém
E a esplanada
tava cheia de alemães
E entretanto voltou
Devias ver a farpa
que a enfermeira arrancou
E a dor é como um touro
que a forquilha acordou
Sem seguro
no privado é a pagar
E o que eu tenho
talvez dê para um folar
E entretanto passou
Isto hoje é só milagres
a velinha resultou!
A reza a Sto. António
(quem diria!) funcionou
Eu pus-me de joelhos
e o demónio abalou
Eu mal podia andar
e olha os saltos que eu dou
Eu tava-me a passar
mas agora passou
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7. |
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(Tou? Hoje não dá. O chefe está para fora e só volta 2ª das Filipinas. Pode aguardar? A forca fica pronta Janeiro sem falta. Sim, estou a ver. E dizem que essa bruxa não arde depressa na nossa pira? Tentem deitar um pouco de azeite, decerto que ajuda.
Ligue depois, nós estamos encerrados até à semana do ano novo. Vou anotar. E o cadafalso precisam para quando?
Hoje não dá. O Chefe está para fora e só volta 2ª das Filipinas. Pode aguardar? A forca fica pronta Janeiro e hoje é…)
Andam todos passados, com o fogo no rabo para ver alguém morto. E eu tou tão cansado. Sempre sangue nas unhas e um pano na cara. E o telefone não pára. Eu só espero que a Mara não dê cabo de nada. E eu tou relaxado…
Sim?
E hoje é tão bom poder mandá-los passear. E se alguém ligar, diz-lhe que hoje tou para fora a beber xerez com duas galegas que me chamam papá.
(Ainda não está. Não quer deixar o nome que quando ele voltar ele pega nisso? Um nome qualquer. Não tem de ser o seu, só um número de fixo. Para um parceiro temos um veneno, mas esse demora catorze horas. É sempre em pó. Pode vir 2ª apanhá-lo, e hoje é…)
E hoje é tão bom ficar deitado a ressacar. E se alguém ligar, diz-lhe que ontem apanhei dois robalos do tamanho de gatos e soltei-os no mar.
(Hoje está cá. O chefe já aí vem, ele só está a atender uma inquisidora. Prima do rei? Isso não sei, mas aguarde um bocado. Sim, estou a ver. Então e a cabeça não cabe na base da guilhotina? Eu mando um rapaz. Já sabem que a tortura é feita antes disso!)
E hoje é tão bom poder voltar a trabalhar. Já me tava a cansar de conversas sobre ioga na praia e dos bailes à noite, sempre areia nos pés…
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8. |
Ela Faz Assim
03:21
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É pena só ter sido um sonho
O tigre curava-me a mão
E a moça que pintava o quadro
saltou do sobreiro e
chamou, Vem
ver se ainda há tempo
para acordar mais uma vez aqui
Mais uma, mais uma
O meu puma por mais uma
Vinda a manhã lá estás tu
ou não, e então
chau-chau
Que sorte só ter sido um sonho
Os ninhos ardiam no chão
Do claustro vinha o som de facas
e a cara no forno
chorou, Vai
ver se ainda há tempo
para acordar mais uma vez aqui
Mais uma, mais uma
Os meus ossos por mais uma
Vinda a manhã lá estás tu
ou não, e então
chau-chau
Ela faz assim e eu
volto para onde vim
com receio de me impor
nalgum plano do senhor
Ela faz assim e eu
puxo-a para mim
mas puxá-la só a faz
afastar-se ainda mais
Ela faz assim e eu
devolvo-lhe o marfim
Não há maneira de a tentar
sem saber regatear
Ela faz assim e eu
conto quatro rins
mas na pressa de os vender
deixo o gelo derreter
Ela faz assim e eu
acordo no Bonfim
mas onde antes tinha pés
vejo caras de bebés
Ela faz assim e eu
marcho para o fim
No meu bolso, cinco paus
Venha a morte por calhaus
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9. |
Nas Docas
03:36
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10. |
A Procissão
03:43
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Bum-bum!, na procissão
entornam mais vinho no pano
Os homens beijam a mão
da estátua com cabelos humanos
E assim vislumbram a luz
sem ter de olhar mesmo para o sol
E podem vê-lo, vê-lo, vê-lo
sem ter de ir lá ter tão cedo
Bum-bum!, acaba-se o jogo
e a besta é aberta na areia
Assam a carne no fogo
que ainda há dias cercava a aldeia
E assim vislumbram o sol
sem ter de olhar mesmo para o céu
E podem vê-lo, vê-lo, vê-lo
sem ter de ir lá ter tão cedo
Bum!, foguetes no céu
e as palmas de quem veio à rua
Disfarçam detrás deste véu
mas olham com a alma tão nua
E assim vislumbram o céu
sem ter de olhar mesmo para a luz
E podem vê-lo, vê-lo, vê-lo
sem ter de ir lá ter tão cedo
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11. |
G
01:24
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As vozes
sossegam de manhã
na margem quase
azul
do rio
Eu arranco
as sanguessugas desta mão
e vou ter onde os outros
os outros
estão
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